Como a Falta de Adequação à LGPD Enfraquece a Confiança em Fornecedores de Soluções de Cybersegurança

Nos últimos meses, tenho participado de numerosos eventos e conferências no universo da segurança da informação e, algo me chama a atenção de maneira recorrente: muitos fornecedores de soluções de cybersegurança, mesmo atuando diretamente na proteção de dados, ainda não se adequaram à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Este paradoxo não apenas revela uma contradição preocupante, mas também levanta questões sobre a confiança no mercado, riscos operacionais e impacto no compliance das empresas clientes.

A Contradição do Mercado

O cenário é, muitas vezes, o seguinte: estandes de fornecedores com recursos tecnológicos de ponta, promessas de segurança máxima e inovações em proteção de dados. No entanto, uma breve análise, ou mesmo conversas francas com representantes dessas empresas, revela a realidade: boa parte dessas soluções não está em conformidade com a LGPD — algumas sequer possuem processos básicos de governança de dados.

Isso se torna especialmente contraditório considerando que a LGPD representa justamente a base legal que orienta todo o manejo de dados pessoais no Brasil. Se o fornecedor não está adequado, como pode entregar, de fato, segurança de dados aos seus clientes?

Por que a Adequação à LGPD é Essencial para Fornecedores de Cybersegurança?

1. Credibilidade no Mercado: Em um ambiente de negócios cada vez mais regido por regulações, não estar em conformidade fragiliza a imagem da empresa, reduzindo a confiança dos clientes e parceiros.

2. Risco Jurídico e Operacional: Do ponto de vista jurídico, um fornecedor não adequado pode expor seus próprios clientes a riscos, pois a responsabilidade solidária prevista na LGPD pode envolver todos os agentes da cadeia de tratamento de dados.

3. Diferencial Competitivo: Empresas que já passaram pelo processo de adequação à LGPD agregam valor ao portfólio, tornando-se escolha preferencial em licitações e contratos de alto nível.

O Dilema do "Fazer o que Eu Falo, Não o que Eu Faço"

Muitos desses fornecedores batem na tecla dos riscos digitais, das sanções da ANPD e da necessidade de proteção holística, mas não praticam internamente o que pregam. Esse comportamento pode ser comparado ao médico que não segue sua própria prescrição — perde autoridade e credibilidade.

O Impacto para as Empresas Contratantes

Ao escolher um fornecedor, empresas deveriam questionar abertamente sobre a adequação à LGPD, exigindo evidências práticas: políticas de privacidade, relatórios de impacto, DPO nomeado, treinamentos internos, entre outros. Ignorar essa etapa é assumir riscos decorrentes de terceirização sem due diligence.

"Nota: A ANPD já deixou claro que a responsabilidade pela escolha dos operadores é do controlador. Uma má escolha pode resultar em multas e danos reputacionais."

Recomendações para Empresas que Buscam Soluções em Cybersegurança

• Valide a conformidade do fornecedor: Solicite documentação e cases sobre a adequação à LGPD.

• Avalie além do marketing: Não se deixe levar apenas pelo discurso comercial; exija práticas comprovadas.

• Inclua cláusulas contratuais de compliance: Garantir respaldo jurídico em caso de incidentes.

Caminho para um Mercado Mais Maduro

A maturidade do mercado de cybersegurança passa, obrigatoriamente, pela cultura da privacidade. Fornecedores que ignoram a LGPD constantemente perdem espaço para aqueles que colocam o compliance e a ética no centro das operações.

Conclusão

O futuro da proteção de dados exige mais do que tecnologia. Exige comprometimento real com as melhores práticas de governança, transparência e respeito ao titular dos dados. Fornecedores que desejam se manter relevantes devem, antes de vender proteção, olhar para dentro e adequar-se à lei. Assim, o ecossistema de segurança será realmente confiável e robusto.

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